Refluxo na safena: O que é, sintomas e tratamentos

23/05/2019

Certamente se você está lendo este blog é porque possui alguma dúvida sobre problemas que afetam a veia safena e a saúde vascular da suas pernas. Talvez você sinta ou conheça alguém que sinta dores nas pernas, sensação de peso, inchaço, coceira.

Talvez você tenha observado que suas pernas ou de alguém que você conheça já apresentam microvarizes, vasinhos ou mesmo aquelas veias mais dilatadas, as varizes. Talvez você tenha casos de varizes na família, especialmente se você for mulher e sua mãe tenha varizes.

Aí você procurou um médico vascular que te examinou e pediu um exame.

Você fez o exame de Ultrassom Doppler Vascular e… Bingo! Deu que a veia safena apresenta refluxo. Está doente. E agora?

A presença de uma doença na veia safena é motivo de alarme para muitos. É uma grande fonte de dúvidas para nossos seguidores e clientes e sempre gera uma série de questionamentos. Na sua cabeça surgem inúmeras questões: Será que vão tirar minha safena? Vou ter que operar? Como é que fica sem a safena? É uma veia do coração?

Para entender melhor essa questão, continue lendo este texto.

Afinal, o que é a Veia Safena?

Deixe eu explicar um pouco sobre a anatomia das veias das pernas.

As veias das pernas estão distribuídas em 3 sistemas:

  1. Sistema Venoso Superficial;
  2. Sistema Venoso Profundo;
  3. Sistema Venoso Comunicante;

O sistema superficial compreende as veias que ficam entre a pele e a capa (aponeurose) dos músculos.

O sistema profundo compreende as veias que ficam no interior dos músculos.

O sistema comunicante compreende as veias que fazem comunicação entre as veias superficiais e as veias profundas.

As veias safenas fazem parte do sistema superficial, ou seja, drenam o sangue entre a pele e os músculos. Elas levam esse fluxo para as veias profundas através de veias perfurantes (ficam no trajeto) e onde elas desembocam diretamente nas veias profundas.

A veia safena magna é a mais longa e juntamente com as veias safenas acessórias, desembocam na virilha no local chamado de “junção safeno-femoral”. A veia safena parva (parva quer dizer curta em latim) fica na batata da perna e desemboca na veia profunda do joelho em local chamado de “junção safeno-poplítea”.

Como as veias funcionam?

O sistema venoso superficial retorna aproximadamente 5% do fluxo venoso e o sistema profundo retorna os 95% restantes. Você já deve ter percebido então que as veias profundas são as principais, certo? Outra coisa bem importante são os músculos das pernas. Eles atuam como uma bomba, especialmente nas panturrilhas (batatas das pernas) que bombeiam o sangue de baixo para cima, contra a gravidade.

Falando em gravidade, dá para entender que o retorno venoso necessita de dois mecanismos para funcionar perfeito. De um lado temos os músculos que atuam como bomba. De outro temos as válvulas das veias, que deixam o fluxo subir, mas não o deixam voltar, ou seja, impedem o refluxo.

Dá para entender que se os músculos são pouco ativados vai dar problema no retorno. De outro lado, se o sistema de válvulas falhar, também vai dar problema, o famoso refluxo.

Veia Safena Magna, a mais famosa veia do Sistema Venoso Superficial

Agora que você já sabe um pouco da anatomia e função venosa, quero falar com você sobre as veias safenas. Sim, existem várias veias safenas, isso também causa muita confusão.  As Veias Safenas são os troncos principais no sistema venoso superficial, que recebem o fluxo de veias menores, como se fossem um rio e seus afluentes.

A maioria das pessoas já ouviu falar da veia safena, que ficou famosa desde o dia em que um médico percebeu que poderia tirar essa veia da perna e levá-la para fazer uma ponte no coração, quando a coronária do paciente estivesse entupida.

Por essa causa, o substantivo “veia safena” virou verbo: “ele está safenado”.

Entretanto, o que poucas pessoas sabem, é que existem várias safenas em cada perna. As principais Safenas são: a Veia Safena Magna e a Veia Safena Parva. Tem também as veias safenas acessórias, ajudantes da safena magna nas coxas. E qualquer uma delas pode ficar doente.

Assim, como o próprio nome diz, a Veia Safena Magna é a mais extensa veia do sistema venoso superficial. Quando se fala em Safena, geralmente, é dela que estamos falando. Ela nasce lá no dedão do pé e sobe por dentro da perna e coxa e termina na virilha onde deságua na veia femoral.

Nesse trajeto, a safena magna vai recebendo seus afluentes e vai aumentando de calibre. Ela comunica-se com veias profundas através de perfurantes e termina por desaguar na veia femoral ao nível da virilha, local chamado de “junção safeno-femoral”.

Refluxo na Veia Safena: O que é? É perigoso? Como é feito o tratamento?

Afinal, o que é o refluxo venoso?

Já expliquei anteriormente que o fluxo normal das veias das pernas deve sempre ser em direção ao coração, ou seja, de baixo para cima, contra a gravidade. Se a veia sofrer uma dilatação ou se a válvula sofrer algum dano o sistema de válvulas entra em falha e o sangue desce para as pernas.

Então fica claro aqui, que o problema das varizes está na degeneração da parede e na estrutura da veia e não no sangue.

Esse sangue refluído fica “sobrando” nas pernas, aumenta a pressão dentro das veias e ajuda na dilatação e tortuosidade, formação de varizes e piora da doença. Provoca os sintomas de dor, sensação de peso, cansaço e inchaço. Nos casos mais crônicos pode evoluir para alterações de pele tipo o eczema (uma alergia que coça muito), o escurecimento (dermatite ocre), a inflamação (chamada de lipodermatoesclerose) e por fim o pior que é a úlcera varicosa. Essas varizes podem furar e sangrar bastante. Além disso, esse “sangue parado” pode coagular, dando uma flebite ou uma trombose.

A presença de refluxo nas veias safenas é uma das situações mais comuns em quem apresenta varizes e isto gera muitas dúvidas e insegurança.

Além do mais, algum grau de refluxo leve pode ser encontrado em quase metade das mulheres que apresentam somente microvarizes e vasinhos.

O refluxo da safena pode iniciar por segmentos na coxa ou perna, começar de cima para baixo na junção com a femoral (na virilha) ou começar de baixo para cima. Os padrões são variados, mas em geral, sabemos que vai evoluindo com o tempo e vai piorando.

Em caso de Refluxo, a Veia Safena deve ser eliminada?

Quando eu avalio um paciente com refluxo na safena, eu faço algumas perguntas:

  1. O refluxo está em um segmento da Veia Safena ou em toda a extensão dela?
  2. O refluxo alcançou a junção da veia safena com a veia profunda (junção safeno-femoral ou junção safeno-poplítea)?
  3. A Veia Safena Magna está dilatada?
  4. A safena está provocando varizes (veias mais grossas?)
  5. O paciente tem algum sintoma?

Sempre avalio o paciente como um todo, levando-se em consideração a idade, suas queixas, suas manifestações e por fim os achados no exame físico e no Ultrassom com Doppler (mapeamento venoso).

Como exemplo, considerando os parâmetros acima, concluímos que, se o refluxo é total, comprometendo a junção da Veia Safena com o sistema profundo e se a veia se tornou muito dilatada, formando varizes, provavelmente essa Veia Safena deveria ser abolida.

Em contraste, se o refluxo é parcial, sem comprometer a junção da Veia Safena com o sistema profundo e se a veia não se encontra muito dilatada, provavelmente essa Veia Safena tem chance de ser preservada.

Hoje em dia a retirada cirúrgica da safena tem sido cada vez mais substituída pelo tratamento endovascular, ou seja, por dentro da veia. Temos utilizado o Laser Endovenoso onde um cateter de fibra ótica leva a luz do laser seca a veia. Podemos aplicar um medicamento em forma de Espuma que também seca essa veia sem cirurgia.

Certamente a experiência do cirurgião vascular e o bom senso, tendo sempre em mente o bem-estar do paciente, são fundamentais para o sucesso do tratamento.

Conclusão

Você viu aqui uma abordagem global sobre o problema que envolve as veias safenas, especialmente a famosa Safena Magna.

Concluímos que nem todas as safenas doentes devem ser eliminadas.

Sempre procurar seu médico Cirurgião Vascular e ambos, o médico e o paciente, levando-se em conta os fatos abordados acima, vão concluir qual a melhor conduta para cada caso.

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